sexta-feira, 13 de março de 2009

As mudanças na música e no nosso gosto pessoal (e a comparação entre Metallica e Lynyrd Skynyrd)

Em 1991 meu irmão mais velho, então com 11 anos, ligou uma anteninha interna UHF com bombril nas pontas na televisão de casa e sintonizou o que, naquela época, era a maior revolução que a TV já tinha visto: a MTV. O primeiro vídeo-clipe que assisti foi Enter Sandman do Metallica. No mesmo ano, pedi ao meu pai de dia das crianças um LP do Metallica. Eu tinha 7 anos de idade e ganhei o Ride the Lightning . Claro que eu não tinha idéia do que era aquilo, eu só queria "embalar" o gosto do meu irmão mais velho. Mas aquela atitude de criança tentando se encontrar me fez muito do que sou hoje.

Foram madrugadas ouvindo a 97 FM no radinho gravador, sempre com um k7 pronto pra gravar tudo que fosse pesado e diferente. A MTV e a 97 FM me mostraram os primeiros passos sobre música.

1986 Metallica

O Metallica em 1986

Durante muitos anos, fui fã incondicional de Metallica. Depois veio o Faith no More (com Falling to Pieces), o Sepultura (com Orgasmatron) e muitas outras. Uma coisa que elas coincidiam entre si era o fato de serem sempre derivadas do metal. Seja ele heavy, thrash ou qualquer outro rótulo. Eu gostava era de música pesada! Até mais ou menos os meus 23 anos, eu não admitia nada que não fosse ensurdecedor.

Mas, então, percebi que o tempo pode ser cruel. Em 1995, com 11 anos, quando ouvi pela primeira vez o álbum Load, do Metallica, me senti como todos os fãs se sentiram: traído. Cadê o peso? O que era aquilo? "Já não bastavam as baladas Nothing Else Matters e The Unforgiven no álbum anterior e ainda tinhamos de ouvir mais baladas? Pô, Metallica, que porra é essa?", pensava eu. Durante anos eu fiquei puto com esse álbum e com baladas. Em 1999 comecei a ouvir o que era a nova onda da música (o tal do new-metal) e me realizei: "Coal Chamber e Machine Head não fazem baladas!" E era isso ai mesmo, mais pesado que isso não haveria.

Só que o tempo passou. Comecei a apreciar uma boa cerveja e percebi que, as vezes, a gente não tá afim de ouvir new, heavy, death, thrash metal core. E ai, coloquei uma das músicas que eu mais odiava do Metallica: Mama Said. E comecei a enteder a razão da música ser o que é. E entendi que, por trás de bandas de thrash, heavy, new metal core, existem influências. E que essas influências mudam tudo. Percebi que, ao ouvir Mama Said, eu estava ouvindo algo muito próximo de Lynyrd Skynyrd e do southern rock, que são influências de muitas bandas que estão ai hoje. E o melhor de tudo, percebi que, de vez em quando, ouvir algo menos pesado e barulhento, pode ser muito legal também. Comecei então a ouvir mais Rock and Roll, ampliei meu horizonte e percebi que podemos conviver, sim, com mudanças no estilo de uma banda. Hoje, ouvindo os dois álbuns do Metallica, Load e Reload, posso afirmar que são bons discos. Claro, não se comparam aos anteriores, mas, se prestarmos atenção, têm ótimos riffs e ótimas baladas (não vou entrar aqui no mérito dos álbuns posteriores, porque se eu começar a falar do St Anger eu vou estragar tudo). Juntando os dois, pegando o que há de melhor, temos um bom álbum.

O que quero dizer é que as bandas também envelhecem. Salvo excessões (a nata do thrash), algumas bandas mudam porque seus integrantes mudam. Cabe ao fã gostar (e entender) ou não. Eu mudei. Hoje posso ouvir tranquilamente o Ride the Lightning e o Load, sem me sentir traído. Posso ouvir um rock and roll fino no melhor estilo Motorhead, um rock and roll também fino no melhor estilo Lynyrd Skynyrd e um thrash alemão do Sodom, sem achar que essas bandas não têm nada a ver entre elas. A verdade é que essa segregação de estilos só existe aqui no Brasil, mas isso fica pra outra hora.

Conclusão, o rock and roll e suas vertentes continuam ai sendo muito bem feitos. Ah, a MTV que citei no começo está muito distante da MTV glbt de hoje.